Catarina Marques Rodrigues: a comunicação como ferramenta para tornar o mundo melhor
Adora a poesia de Adília Lopes, mas é o feminismo o tema que mais lhe ocupa lugar na estante. Também por isso Catarina Marques Rodrigues, jornalista de profissão, considera-se especialista em direitos das mulheres e direitos LGBTI. Não por ter uma formação no sentido tradicional ou formal do termo, mas por ter investigado sobre as temáticas por iniciativa própria. Aos 27 anos, conta já com vários prémios e distinções.
Natural de uma aldeia do concelho de Ourém, licenciou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais, na FCSH, mas sempre com a "ideia de trabalhar no Parlamento Europeu ou numa organização relacionada com direitos humanos", ou seja, já tinha a perspetiva de "mudar alguma coisa", explicou. Contudo, a comunicação revelou ser a sua vocação. Aliás, ainda em pequena inventava ser jornalista. Começou a perceber que "trazendo determinadas realidades para um espaço público, de maior reconhecimento, que isso tinha realmente impacto", explicou Catarina.
Cresceu num ambiente onde se deu importância aos media e aprendeu que "aquilo que se diz nos media é importante". Ensaiou em jornais da escola e da faculdade, e após a licenciatura começou a tirar uma pós-graduação e mestrado, ambos na área do jornalismo. Mas não completou. Entrou na redação do Observador, onde começou a sua carreira, tinha o projeto acabado de abrir portas. Confirmou que a comunicação e o jornalismo eram a sua vocação. Logo em 2014 ganhou o Prémio Média da Rede Ex Aequo pela reportagem "Olá, sou o João e gosto de brincar com coisas de menina", sobre crianças transgénero. Dois anos depois foi convidada para a RTP, onde é jornalista de multimédia, embora já tenha passado também para a frente da câmara.
A sua área de especialização e também de interesse é relacionada com questões de direitos humanos, direitos das mulheres e direitos LGBTI, racismo, igualdade e diversidade. Catarina dedica-se a estes temas, da mesma maneira que um jornalista se dedica mais ao desporto ou economia. "Não acho que vou acabar com a fome do mundo, ou que vou fazer com que não olhem para a cor das pessoas, mas acho que é possível alterar, passo a passo, algumas mentalidades. É possível que as pessoas ganhem mais informação." Aliás, as peças jornalísticas que faz sobre estas temáticas não são pedidas pela estação, mas é a própria Catarina que procura esses temas.
Foi autora do podcast "Chicas Poderosas", que estreou em 2017 na Antena 3, onde recebia convidados para falar de vários temas, um deles o feminismo. Foi a entrevistadora apenas da primeira temporada, porque deixou de ter tempo para se dedicar ao projeto. Mas ele continuou com outras vozes. Também foi moderadora do podcast, também disponível em vídeo, do Público "Sem Filtro", que falava de temas da atualidade juntamente com três oradores.
O interesse por estas temáticas foi-se desenvolvendo de forma natural. Quando começou a trabalhar ficou mais sensibilizada para as temáticas. "Conversar com crianças transgénero, fazer uma reportagem em Itália com refugiados, conversar com pessoas que sofreram ataques homofóbicos, falar com mulheres que foram violadas pelos maridos" fê-la querer fazer ainda mais. Habituou-se, assim, a questionar o que a rodeia: "sempre fui pró em estragar almoços de família em que se criticava alguém: dos imigrantes, ou dos negros ou o que quer que fosse", acrescentou a jornalista.
Nem só de jornalismo vive a missão
O voluntariado também faz parte da sua rotina. Fundação Luso-Americana, Ajuda de Mãe, HeForShe são as três instituições por onde tem passado. Faz trabalhos de mentoria, workshops, conferências e debates, no fundo utiliza em grande parte as suas capacidades de comunicação. Foi aliás numa conferência organizada pela HeForShe que conheceu Carolina Pereira, que também foi oradora. Carolina é ativista, trabalha com ONGs, e os temas de preferência também são os direitos humanos, igualdade e diversidade. Desde o seu primeiro encontro que ficaram amigas próximas e ajudam-se mutuamente. Costumam encontrar-se amiúde para trocar e consolidar ideias e Carolina ajuda a amiga a estruturar e organizar os seus projetos.
Também Catarina se considera ativista. "Sempre que fazemos algo com alguma intenção que é clara e deliberada acho que é ativismo", clarifica a jornalista. Por isso, fala sobre estes temas com intenção, mesmo que seja através de uma peça jornalística. Tem um sentido de justiça e empatia muito aguçado, explicou Carolina: "estas histórias mexem mesmo com ela". Carolina descreve-a como genuinamente interessada nas pessoas e nas histórias que carregam. "Se formos a uma loja de indiano, enquanto eu estou a escolher a caneca, ela está a falar com as pessoas e a querer saber a vida, do género “e vocês vieram para cá, ai que engraçado, então como se chama a sua mulher".
Fazer perguntas é, aliás, algo que a caracteriza. Quando conheceu um amigo do namorado fez-lhe muitas perguntas acerca dele durante quinze minutos que durou a viagem de carro. “A Catarina estava a fazer-lhe perguntas e ele ficou tão entusiasmado de ter tanto interesse", contou Emanuel Barbosa. A jornalista admite que adora "falar com pessoas, especialmente de realidades diferentes", quais o seus hábitos e costumes e como pensam. Contar histórias é também uma ferramenta para chegar mais perto do objetivo de mudar alguma coisa. Contribuiu enquanto autora no livro "Empreendedoras por Natureza" publicado em 2018, sobre mulheres empreendedoras, um dos projetos mais desafiantes que fez.
Além de moderar, apresentar vários eventos e fazer conferências, também partilha vídeos nas redes sociais também a pensar nas pessoas "que não veem tanta televisão...", com o objetivo não só de informar, mas também para fomentar o debate e reflexão. Tem recebido bom feedback: "uns dizem "é verdade, nunca pensei nisso", outros dizem que se identificam". "Estes vídeos são muito importantes, porque consegues dizer que o que as pessoas sentem é normal, e isso é muito poderoso", continuou. Já abordou temas como a masculinidade tóxica, o "coronavírus e a desigualdade: quando a casa não é um lar", se é preciso ser "lésbica para ser pró-LGBT". "Isso pode chegar a alguém e ser positivo, ou fazer pensar, e isso é o que me interessa", concluiu Catarina.
O lado jornalístico de Catarina nunca a deixa, e precisa desse lado para usar nos seus vídeos e no seu trabalho. Mesmo no dia a dia isso se reflete. “Quando ela está a contar alguma coisa é demasiado jornalística, é mais curto e com factos, e quer saber qual é a notícia”, conta a amiga, que é storyteller. Quando é Carolina a contar algo, Catarina quer saber “qual é a notícia” e ambas brincam com a situação.
​
​
E, embora a jornalista se sinta realizada, não se acomoda onde está. Às vezes esquece-se do que já fez, e continua em busca de conhecimento e de novas histórias e pessoas a quem dar voz. Também encontra inspiração nas pessoas que a rodeiam e nas histórias que conhece. No tempo livre, aproveita por ler e pesquisar sobre os temas de preferência, cuja informação pode usar nos seus projetos. "O conhecimento que adquiro partilho com os outros". A escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie foi uma das últimas que leu. África é o seu grande destino de sonho e passaria facilmente um dia a ver museus ou monumentos. Também não passa sem se divertir, e até no gosto musical aposta na diversidade.